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Em algum lugar longe daqui

sexta-feira, 7 de março de 2014



Coloquei os fones de ouvido e deitei a cabeça sobre a mesa. Chequei o celular mais uma vez. Nada. Fechei os olhos e comecei a lembrar de tudo que vivemos. Do primeiro olhar ao último beijo. Do "não tô olhando pra sua amiga, tô olhando pra você" até o "a gente se fala pelo celular". Das luzes piscando, até a luz apagada.

Já lavei o cabelo duas vezes, mas seu perfume não sai de mim. Talvez seja alucinação. Tipo quando chupei o último Halls de cereja que você deixou em cima da mesa de cabeceira e senti o gosto da sua boca. Ah, garoto. Você deixou muito mais que isso. Muito mais do que pensa.

Não sei onde eu estava com a cabeça quando disse que você não precisava se preocupar. Você não sabe, mas enquanto eu repetia a sequência "Relaxa, pode ir, vou demorar pra arrumar tudo, eu me viro, vou sozinha" estava tentando enganar muito mais a mim do que a você. Não funcionou. Você viu que eu já estava com a mala pronta. Mas eu não vi que já estava com saudade de você.

Sabe o que mais mexeu comigo? Quando você disse exatamente o que eu estava com vontade de falar. Isso é raro. Você mesmo usou essa palavra. Três segundos antes de fechar os olhos e voltar a me beijar.

Agora eu abro os olhos e você está em algum lugar longe daqui. Fazendo alguma coisa que eu não tenho ideia do que seja. Eu estava tão indiferente... até me dar conta de que a nossa realidade é diferente. Incomparável. E aqui estou eu esperando uma droga de aula começar escrevendo no papel da proposta de redação. Nem li. Deve ser um tema idiota que já caiu em uma porção de vestibulares. Foda-se. Querido corretor, no momento só consigo encontrar argumentos para defender minha própria tese: distância é uma merda.