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Elevador

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Nos conhecemos no elevador. Difícil saber qual dos dois estava mais atrasado. Eu segurava o celular, fone e bilhete único com uma mão e tentava fechar a bolsa com a outra. Ele abriu a porta, colocou uma pasta para segurar e voltou pro seu apartamento para tranca-lo. Nem percebeu minha presença.
Fiquei olhando para aquela pasta. Três meses de La Brea - é assim que comecei a avaliar o preço das coisas depois do meu primeiro emprego. Preta. Couro, com certeza. Aprendi a distinguir com meu avô. Minha vontade foi chuta- la pra fora e descer. Segurar a porta do elevador é tipo parar em fila dupla. Vantagem pra um, atraso de vida pra cinquenta. No caso era só pra mim. E também não era bem um atraso se vida. Era só na primeira aula. Mas só comecei a pensar dessa forma quando decidi dar mais cinco segundos de tolerância e, no 2, ele entrou. E percebeu que eu estava ali.

-Desculpa
 

Que voz doce. Que cheiro de café. Sorri.

-Bom dia

Ele sorriu. Olhou pro meu fichário.

-Faculdade?

-Ano que vem, espero!

-Aproveita. Passa tão rápido...

-É o que todo mundo diz. "Os melhores anos da vida..."

-Ah, isso eu nao concordo. Pra mim, a melhor época da vida é sempre o presente.

T

Ele abriu a porta e segurou enquanto eu saia. Deu pra sentir o cheiro do seu perfume.

-Boa aula

Não consegui responder. Entao eu só sorri.
E fui embora.
E passei o dia com aquilo na cabeça.

Isso foi numa sexta feira. Na primeira manhã de chuva do ano. Era o penúltimo dia do horário de verão. E foi o último dia em que eu saí de casa pra só viver mais um.



Enquanto a gente cantava

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

A gente descobriu junto que o meu tom é dó
E agora eu descobri que não sei mais ficar só
Foi mais forte que qualquer coisa que eu imaginei

Eu não consigo esquecer o som da sua voz
E as palmas que depos bateram para nós
E tudo aquilo que até parece que eu inventei

Eu espero que você não esqueça
E saiba que não importa o que aconteça
Eu vou estar aqui

Pode chamar que eu vou, não importa onde for
Porque eu sei que com você não vai ter dor
Isso eu já percebi

Então me deixa terminar aquele seu refrão
E depois entrar de vez no seu coração

Porque enquanto a gente cantava
Eu me sentia realmente em casa
E naquele silêncio de cidade pequena
Eu eu tive a certeza que você valia a pena