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O meu caminho de volta

sábado, 9 de novembro de 2013

Da janela do hotel eu via a lua. Única, como aquele momento. Agora, da janela do ônibus, eu só consigo ver as placas que me mostram que estou indo, quilômetro por quilômetro, para mais longe de você.
Odeio esse ar condicionado que consegue ser mais frio do que seu último abraço. Odeio essas lágrimas quentes que não param de cair em uma tentativa de equilíbrio físico e emocional.

Me lembro bem quando começou. Eu não sabia seu nome, e claro que você também não sabia o meu. Eu estava prestes a ir para o outro lado, seguindo todo mundo, mas então alguma coisa em você me prendeu. Você percebeu, e usou isso a seu favor. Ou a favor de nós dois.

Era tão mais fácil. Eu podia viver e esquecer. E se por acaso eu lembrasse, só me fazia sorrir sozinha. Mas sei lá, acho que acabei misturando o que aconteceu de fato com o que eu inventei. E acabei ficando cada vez mais perdida, mesmo sabendo que a direção do caminho não depende de mim.

Não quero voltar pra casa. Quero voltar pro tempo em que você cantava olhando pra mim. Pro tempo em que eu conseguia não desviar o olhar. Pro tempo em que as palavras saíam naturalmente da minha boca e a gente não ficava em silêncio nem por um segundo. E depois, pro tempo em que minha boca e a sua não diziam nada e o silêncio não incomodava nem um pouco.

Quem sabe em outra vida, se a gente nascer em anos mais próximos, em vidas mais parecidas e com mais sonhos em comum.

Agora eu preciso mesmo ir. Tem uma vida inteirinha me esperando. Embora seja uma pena, a realidade é que você só conheceu uma pequena parte de mim. Não sei se é a melhor, a pior, a desnecessária ou a fundamental. Não sei se surgiu de repente ou se construí ao longo do tempo. Mas eu sei que essa parte está marcada pra sempre. Por você.