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Passou mais rápido que seu avião

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Parada no trânsito depois de um dia cansativo. Tão preocupada com a chuva que ameaçava virar uma tempestade que nem prestava atenção no que tocava no rádio. Até que ela ouviu algo familiar. Os primeiros acordes já foram suficientes para reconhecer a música que tinha feito parte de um momento muito especial. Marcante. Significativo. Inesquecível. Na verdade, indescritível. Como tudo que é formado através do amor.
Não pensou duas vezes e pegou o celular. Um toque, dois toques, caixa postal. Estranho. Mas logo depois chegou uma mensagem:

Não posso atender agora, tô entrando no avião. Quando eu chegar lá a gente se fala. Beijos

"Avião? Meu Deus, que dia é hoje?" foi o que ela pensou. Sim, o dia tinha chegado. Ele estava embarcando naquele momento. Não acreditou que tinha esquecido.
Lembrou do dia que tinha recebido a notícia, mas ou menos um mês atrás: "Ah, mas que experiência incrível você vai ter! Seis meses na Alemanha, que demais! Aproveite o máximo!" foram as palavras que saíram de sua boca. Mas por dentro o que ela queria dizer era "e aí, o que vai acontecer com a gente???" Ela tinha chorado por um bom tempo. Seis meses sem ele parecia algo impossível, e o pior de tudo era essa incerteza. O engraçado é que eles acima de qualquer coisa eram grandes amigos e falavam sobre tudo mesmo. Mas a conversa que realmente tinha que acontecer jamais era iniciada.
Tentou lembrar a última vez que os dois tinham se encontrado. É, depois de dada a notícia, nunca mais. Ela tinha achado melhor se afastar e dar um tempo. Ele tinha percebido e perguntado o motivo. Ela tinha sempre as mesmas respostas: "não quero atrapalhar, você deve estar ocupado preparando tudo. Além disso, tem que aproveitar o tempo com sua família". Talvez ele tenha percebido, mas tivesse achado melhor assim.
Durante aquele mês ela foi descobrindo que poderia ser completa sem aquela pessoa que ela dizia ser a sua metade. O que era impossível com o tempo virou aceitável. Até passar por despercebido.
Seus pensamentos foram interrompidos pela voz gritante do locutor da rádio. A música tinha terminado. Mas ela sabia que nunca deixaria de existir. Assim como a história dos dois. Mas, naquele momento, só o que restava a fazer era desejar uma boa viagem.
Então ela respirou fundo, olhou para o céu por trás do para-brisa e agradeceu pelas duas coisas que tinham ido embora: a chuva, e o aperto em seu coração.

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